Tomando emprestado o convite de Dorival Caymmy e substituindo
Bahia por Brasilia, nossa Capital Federal, é a um só tempo emblema
e vontade e desejo.
Emblema, por que com o seu urbanismo de esplanada, no lúcido
projeto de Lúcio Costa, mostrou ao mundo todo de como uma nação
jovem arrumaria os seus passos, dalí em diante.
Vontade, por que, no meio do nada e longe de tudo até então
conhecido, erigimos um cenário estupefasciente, incrustrado no
coração do Cerrado, algo somente possivel em países jovens ou até
mesmo quem sabe, à caminho do ajuizamento.
Visitar Brasilia, é algo impossível de se descrever em palavras
modestas.
A escala é pretensamente absurda, impressionante, aeroportuária,
afeita à Dirígiveis Alemães e Seres Gigantescos.
Nós, os Humanos para quem essa Maravilha do Mundo Mmoderno foi
erigida, tornamos-nos meros elétrons em trãnsito, indo de "A" à "B", da forma mais rápida e linear possivel, extamente como num
Sistema Circulatório.
Temos que trocar a régua do metro, pela
barra do quilometro. As quadras e as quatro esquinas daquelas decorrentes, nas quais
todos nos fomos moldados, inexistem e cedo, ainda pelas
manhazinhas secas, temos de educar nossa visão, tamanha é a
invasão do céu, dentro de nossas cabeças, sempre presente e
massivo e límpido, não importa por qual das Asas, a Norte ou a Sul, estejamos pousados...
Para povoar o imenso vazio, Oscar Niemeyer, diletante do arquiteto franco-suíço Jeanneret (dito "Le Corbusier"), era o homem da vez.
JK, o presidente mineiro (que dá nome em uma de nossas avenidas cá na "Filha de Londres"),
encontrou no desenhista de sonhos a sua maquina operacional particular, para o ambicioso
plano de mudança pública.
Entretanto, passados bons 52 anos da experiencia urbanistica,
algumas questões começam a ficar, digamos assim, interessantes de
se discutir.
Primeiramente, é indiscutível que a Arquitetura é, foi e será a
única configuração humana possível, onde reunimos todo um saber,
recursos abundantes (em especial, o financeiro) técnicas
consgaradas via experimentação, somados à um um espírito de seu
tempo, para marcarmos nossas presenças em um mundo o qual, no
ciclo de vida humana, se tornará, mais dia, menosdia, imaterial,
como ocorre, aliás, para todos nós.
Assim, é ela quem atendeu aos anseios de poder e recursos da mais
espetacular das civilizações, o Egito dos Faraós, para ficar num
único exemplo histórico, entre dezenas de outros, o mais recente,
e com o mesmo viés atávico, o ex-porto anônimo de comerciantes de pérolas, Dubai.
Falando em exemplos e fazendo aqui com o leitor um teste simples,
se eu citar três capitais tais como:
PARIS,
LONDRES
NOVA IORQUE
... não raro, logo vem à mente da esmagadora maioria
a Torre Eiffel (projeto
do arquiteto Sauvestre),
o Edifíco do Parlamento (projeto do arquiteto Barry)
e,
muito provavelmente, lembraremos de Arranhas-Céus, com centenas de arquitetos como
autores delas.
E o Brasil? Qual é mesmo a nossa cara ?
Dificil dizer, pois nos vêem, muito mais do que nós nos vemos.
Em termos de escala, o escritório do arquiteto brasileiro Oscar
Niemeyer, contabiliza mais de 5OO projetos. Só para termos uma
idéia de comparação, o escritório do consagrado arquiteto londrino
Norman Foster, mal passa da metade da cifra.
Um aspecto importante, entretanto, ninguém poderá se furtar: Oscar
Niemeyer representou um Brasil mundo afora, qual um embaixador
credenciado, onde nem mesmo governos inteiros, por meio século de
oportunidades desperdiçadas, conseguiram laborar, no sentido de
uma "imagem" para o nosso Brasil.
Só prá constar, até o café, para países como os Estados Unidos, o
bom mesmo é o da Colômbia, e qualquer bom bebedor sabe que por lá,
o marketing funciona melhor, como funcionou para nosso latino
vizinho de fronteira e aqui ficamos na borra, até nisso...
Assim, o que exatamente esta arquitetura do nosso Grande Mestre
representa?
Quando nos bancos da escola, o carioca mal é mencionado, alías,
Lucio Costa, o urbanista, é bem mais estudado.
Entre não poucos mestres que tive, ele é tido por "arquiteto
chapa-branca", alguns autores o consideram um escultor
fabuloso, e outros, simples assim, ignoram solenemente suas obras.
O fato, é que Niemeyer não concebeu "a" arquitetura, e sim,
uma, entre tantas infinitas possibilidades materializadas do
pensamento, quando juntamos água, areia, pedra, ferro, cimento e
vidro e idéias.
Para alguns dos meus clientes da arquitetura (não atuo
exclusivamente no ofício, diga-se), costumo dizer que "uma casa
feia, custa o mesmo que uma casa bonita", no sentido de que,
em termos de matérias primas fundamentais, mansão ou favela se
servirão das mesmas.
E ao final destas contas no balcão do depósito de materiais de
construção, se passarmos a régua, esta tal de Arquitetura Modernista, ela é feia ou é bonita
?
À luz do que temos nesse início de Século XXI, promissor em todos os
sentidos, a fórmula utilizada pelo arquiteto centenário, não tem
mais razão de ser e, bem colocado, das dezenas de vertentes do
Modernismo, ela nem é a majoritária, muito pelo contrário.
Apenas se consideramos o viés ambiental e ecológico, suas obras
são algo bastante aproximado de uma hecatombe nuclear, um
tiranossauro devorador de recursos, inclusive de longo prazo,
tamanhas as necessidades adicionais para mantermos conforto
térmico e acústico, dentro de suas edificações, pois carregam em
seu DNA, tempos que não mais os viveremos, em especial, dos
Milagres Economicos e outros rompantes políticos.
Como usuário, um ambiente como o Memorial da América Latina, das quase 2OX que lá estive, sempre tive ganas de eu mesmo abreviar a vida do Grande Mestre, com mínhas próprias mãos nuas. Entretanto, visitar o Prque Temático Alusivo ao Concreto nos baixios pelanemente drenados da Barra Funda, vale pela experiencia sensorial de sabermos de como um deserto opera, de como a solidão é possível no meia da Floresta Urbana e, falando em árvores, de como podemos simplesemente igonrá-las para todo o sempre, ainda que descendamos EXCLUSIVAMENTE DAS ÁRVORES, por simbiose pérfeita, justo elas, que nos trouxeram até aqui., lá se vão 3OO.OOO.OOO mihões de anos con/vivendo com essa formidável espécie.
Agora, no hoje, o fato de termos herdado este espetacular e frio parque temático,
com ícones que transcenderão familias, governos e estilos, não nos
eximirá em descuidarmos de tão assombroso patrimônio jamais
construído, incluindo cidades inteiras.
Até mesmo, para que
gerações futuras possam nos olhar de lá adiante, e, quem sabe,
perceberem o que é que um país, com emblemas, vontades, e desejos,
foi capaz de conceber em conjunto com seus desígnios mais
fundamentalizantes.
Foi o Espírito de uma Época.
Mas já foi.
CHRISTIAN STEAGALL-CONDÉ,
arquiteto