11 de jun. de 2013

O TURISMO NAS CIDADES PEQUENAS

O jornalista diplomado Maurício Reale Nogueira, me entrevista:
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1.       O que deve ser levado em consideração para desenvolver um projeto de turismo e lazer em cidades de pequeno e médio porte?
A primeira das análises, é contratar uma consultoria externa, de profissionais liberais cujas áreas de atuação não sejam necessariamente do turismo, como arquitetos, urbanistas, sociólogos, geógrafos e até mesmo historiadores e biólogos. Isto é necessário, por que, na maioria das vezes, pensa-se com os próprios umbigos, e, se o gestor não puder contar com o seu próprio pessoal de apoio interno, o qual possua alguma visão crítica (ou ao menos que seja um staff viajado, no sentido de ter experimentado outras realidades urbanas, não necessariamente no exterior ), daí, alguém com uma visão de fora do processo, costuma enxergar melhor e detectar mais rapidamente aquilo que os habitantes locais, em muitos casos, estão cegos de tanto verem ou sequer presumam potenciais, ainda que se utilizem da própria intuição.

Apenas para dar um exemplo estatístico, portanto, comum em todo o planeta, cidadãos paulistanos nunca subiram no mirante da Torre Banespa (hoje, Santander) no centro de SP, um belíssimo exemplo da arquitetura do estilo Art Decô e, raríssimos serão os cariocas que já subiram no Pão de Açúcar pelo bondinho, bem como quase nenhum romano já visitou as ruínas do estádio do Coliseu, mesmo morando no mesmo bairro daquela imponente e majestosa atração arquitetônica.


Ou seja, é o olhar de fora, que valoriza o que há dentro.
Também conhecido como "o olhar do estrangeiro". 


Não se pode esquecer que uma boa parte do motor do turismo, trata-se de um componente emocional e, não raro, daquilo que nos falta ou que não temos ou desconhecemos e assim, nos atrai.
Há também o componente do deslumbramento (no sentido de se iluminar) e do nôvo: Supondo que voce tenha renda para ir à Grécia, visitar apenas duas cidades, digamos Tessalônica e Paleofarsalis, distantes uma da outra. Oras, se alguém lhe alertar previamente que ambas se parecem muito, com toda a certeza, você eliminaria um dos dois destinos, substituindo-o por outro, como por exemplo, Atenas.


No mais, o turismo é um comportamento natural humano, que sofreu modificações muito sutis e está profundamente enraizado em de como nossos copos funcionam. Fundamentalmente, designado para percorrer distancias terrestres monumentais, mesmo que, no hoje em dia a maioria de nós nos restringimos bastante, via civilização, mas o ímpeto interior, atávico, não arrefece tão facilmente e costuma nos impelir adiante, até mesmo na Terceira Idade. Costumo enfatizar que somos ambulantes, por design e, quando negamos isto, começam nossos problemas físicos, que, claro, afetarão as mentes.


E, especificamente no que fazer, para termos um vetor turístico, com certeza, fazermos a lição de casa: Ruas impecavelmente limpas e varridas, asfaltamento liso e duradouro, molêdos revisados nas áreas rurais e sinalização adequada, sem contarmos iluminação e incentivos municipais variados, tendo em vista a paisagem e os cenários cotidianos, sejam urbanos ou vicinais, sem esquecermos dos treinamentos da própria população local, no atendimento e recepção de visitantes ocasionais, sejam frentistas de postos de gasolina, guardas, garçons ou jornaleiros e garis, bem como a elite local, convidando-os à refletirem sobre suas opções, afinal, a maioria de nós viveremos as nossas vidas no mesmo local, por quase a vida inteira, então, por que não nos dedicarmos á isto?

2.       É possível aproveitar áreas de preservação ambiental para projetos turísticos?

Quando se fala em "preservação ambiental", é bom termos sempre em mente que a maioria das pessoas não tem a menor das noções ou possuem a mínima das ideias realistas, do que o termo se trata.
Assim como a tal de "qualidade de vida", ambos os termos muito elegantes, mas frequentemente mal empregados, com muita veemência, especialmente, pela nossa classe política.


Quando falamos de "preservação ambiental", pensa-se majoritariamente em áreas verdes ou proteção às árvores ou animais, em aguns raros  casos, até de uma bacia hidrográfica (rios e lagos).
Mas o próprio termo "preservação ambiental", agindo como tal, costuma restringir ou em alguns casos, impedir a visitação humana, principalmente, por que ainda estamos em uma fase de turismo que pode ser considerada predatória, de baixo respeito aos espaço comuns.


Vilha Velha no PR, sofreu décadas com turistas que "só pegavam uma pedrinha do chão", como souvenir e, esta verdadeira "erosão humana", com milhares de visitantes ao ano, quase fez o parque estadual virar pó.

Preservação ambiental, para ser o que o termo anuncia, implica em também propiciarmos um habitat seguro para cobras, escorpiões, morcegos, abutres e insetos, animais magníficos e necessários, mas, se numa hipótese remota, deixarmos que o grosso das pessoas opinem, nós só teriamos animais como poodles dóceis, gatinhos fofos, canarinhos cantantes e carneirinhos macios.

Sussuaranas, por exemplo, magnificos felinos encontráveis nas Três Américas, hoje é uma raridade, por causa da fragmentação da Mata Atlântica. E pecuaristas, por pensarem apenas em seus bolsos e pastagens nuas, costumam ser os vizinhos imediatos destas raríssimas areas naturais remanescentes, então, temos muito o que avançarmos, ainda.


O turismo, deve ser gerido de tal modo que ele se enamore da Mãe Natureza, de modo harmonioso. 


Campos de caça controlada, por exemplo, com animais chipados, seria uma opção viável e em meu ponto-de-vista, coerente com a espécie que somos. Matamos 150 milhões de porcos, bois, galinhas e peixes todos os dias, para nos alimentarmos, por que não faisões, cervos e assemelhados?

3.       Cite projetos que deram certo em cidades pequenas ou médias.

A grande maioria dos projetos brasileiros que poderíamos considerar "turísticos", nasceram de forma espontânea, devido à uma vocação regional pré-existente, um acordo produtivo local intuitivo ou devido ao voluntarismo de um determinado grupo mais ou menos organizados de atores sociais, com áreas de interesse comuns.


Não quero citar aqui projetos desconhecidos, mas vou reforçar três deles que conheço de muito perto, onde o ponto em comum, é a sua potencial atração turística anual:


Um deles, ocorre no norte de SP, na cidade de Barretos (112.000 habitantes). O que hoje é um evento de grande porte com patrocinadores de peso, e visitantes internacionais, começou numa republica de estudantes de agronomia, que se reuniram para organizar um pequeno rodeio num final de semana, combatendo a monotonia de uma cidade pequena.


O segundo projeto, fica em Rolãndia (57.000 habitantes), belíssima cidade do norte do Paraná, que leva o nome do personagem histórico "Roland", um nobre guerreiro medieval da então Germãnia. Sua Oktoberfest está agendada no calendário de eventos do Estado e começou com uma pequena quermesse.


Por último, temos em Londrina (515.000 habitantes), a Festa Metamorfose, um evento à fantasia o qual começou numa republica de estudantes sem dinheiro a qual, não por acaso, eu estava em sua primeira edição, acompanhando sua "evolução", até ter se tornado um evento privado de médio porte, que atrai pessoas até de países vizinhos do Brasil e chega a lotar as dependências sem uso frequente de um parque como é o da Sociedade Rural do Paraná, onde já é realizado, com sucesso, a Exposição Anual, no mês de abril, atraindo publico de todas as faixas etárias e classes sociais.

4.       Você não conhece muito bem Santo Antonio da Platina, mas o que poderia ser feito nas áreas de turismo e lazer?

O Morro do Bim, é uma espetacular formação geológica, bastante antiga, de pequeno porte, oriundo da intensa atividade vulcãnica dessa parte do estado, cuja rápida urbanização de seu entorno imediato, o ameaça constantemente por todos os flancos. Convertê-lo em área de preservação urbana, lhe daria caráter e valorizaria o que já existe, o mar de antenas de transmissão, como ícones eletrônicos cointemporâneos, incluído, os quais poderiam, como exemplo atual, faiscarem como faróis costeiros modernos, com flashes aeronauticos sincronizados, à guisa de exemplo do que se promover.


A ex-Estação Ferroviária da Platina, com seu entorno imediato e mais o conjunto arquitetônico construido pela R.V.P.S.C., é um núcleo histórico importante, é a matriz da cidade. É belíssimo, único e merecia atenção também do próprio Estado, bem como organizarmos a existência de um trem turistico sazonal, por exemplo, de circulação restrita durante os invernos, nas férias escolares de Julho, sendo possivel, movido à lenha, com tração à vapor.
Contudo, vendo o que aconteceu com a clássica estação construida toda em madeira, da vizinha Joaquim Távora, devastada que foi por um incêndio iniciado por um moleque, temos que ter noção de cuidarmos primeiro do que já temos, antes de criarmos "velhas novidades".
Poderíamos ter rotas rurais para o ciclismo de aventura, com estações de apoio em fazendas ou fundos-de-vale ou até mesmo, roteiros elaborados por tração animal, como cavalos por exemplo.


Sobre o turismo religioso, em geral, eu jamais o verei com bons olhos pois, por principio, acaba sendo excludente e atende somente aos adeptos da seita que o promove. Num país de população plural, com liberdades de pensamento, e sendo e Estado laico, usar dinheiro publico para uma igreja é, prá dizermos o minimo aqui, um crime social e de pré-conceitos estabelecidos.
No mais, temos todos que ter sempre na mente, a máxima que o próprio mercado nos ensina: 


Evento grande, capitaliza,
evento pequeno, fideliza.
Ou seja, a escala é -e será- determinante.


Como em tudo nesta vida, temos que fazer escolhas e, até podemos e temos o pleno direito em pensarmos grande, mas eu canalizaria isto no sentido de um projeto completo, após análise cuidadosa dos potenciais locais e/ou regionais, para somente depois disto, agirmos.
A incubação de qualquer iniciativa turística, é bom alertar, demanda tempo, testes reais, projetos-piloto iniciais, analise de similares e avaliação dos resultados.


Só daí, pode-se implantá-la, inclusive, com dinheiro público, pois é rubrica a qual, ao menos em tese, beneficiaria indiretamente toda uma população.
Só que, sem verba, o mundo das idéias não se materializa e, desde que o mundo é mundo, este é movimentado, primeiramente, pelas próprias ideias.
Ao contrario do que as pessoas comuns pensam, são as ideias que movimentam o mundo, e não os recursos. O que temos de verba parada no Brasil, aguardando boas idéias, daria para fundarmos um novo país, mas ninguém vai meter as mãos nos bolsos, sem consistência e, principalmente, sem uma boa ideia, não importa a área de atuação humana.


Em pleno inicio de Século XXI, estamos ingressando na Era dos Conteúdos Profundos, dos Roteiros Elaborados e dos Projetos Completos e, com estes, é como conseguiremos planejar melhor, implementar direito e manutender com eficiência, deixando o estado ocupado como o regulador e, sendo o caso, financiador destas relações de mercado, levando em conta que o planeta, a cada século que passa,  possui recursos finitos e não teremos como importar de outros lugares nada de valor, especialmente, águas potáveis e ares respiráveis.


Christian Steagall Condé, para o jornalista Maurício Reale Nogueira, da Tribuna de S.A.P.

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Capriche. Não curto Anônimos, mas costumo perdoar os Covardes. (Às vezes, me sinto covarde, então...)