24 de fev. de 2024

Fogos Caramurú

 

Enfrentei um acidente pessoal relativamente grave com um Rojão 13x1, aquele com 13 explosões finalizadas 1 Tiro Canhão no final das salvas.

Alguma coisa me conduziu à Av. Paulista naquelas migrações humanas convergentes, não sei de qual hierarquia futebolística, se Mundial ou Nacional ou Várzea Local.

Um tsunami populacional incontável, com direito até mesmo à uma Bateria de Escola de Samba, gentes de todas as classes sócio econômicas, digamos, "confraternizando" com desconhecidos de todos os tipos e fenótipos.

No meio da fuzarca algum folião rasgou uma caixa grande de Fogos Caramurú, os que "Não Dão Xabú" naquelas cores Kitsch com ilustrações idem e populares voaram prá cima dele em busca de seu naco no súbito butim de pólvora seca, ávidos por conquistarem -enfim- um artefato em seu arsenal festivo e agora, armados.

Nem sei como mas um dos Rojões daquela caixa estripada caiu em minhas mãos, eu tinha uns 15 ou 16 anos e naturalmente o empunhei diante de mim, olhando aquele cano de papelão cinza com o evidente pavio saindo na lateral, um verdadeiro canhão temporário descartável com o cabo bem prensado, cuja culatra era nada mais do que uma abraçadeira feita de fio grosso, comprimindo o tubo perto da base, como uma linguiça, num aperto providencial para que a reação à pólvora inflamando fosse ejetada para o lado certo.

Em nanossegundos um fumante qualquer aproximou seu Róliúde do meu pavio e aquela incandescência imediata numa luz azulada, me fez instintivamente erguer meu braço na multidão, abaixar a cabeça e espremer os olhos, aguardando o lançamento das 13 bombas Terra-Ar.

Sem contarmos o 1 Tiro Canhão, finalizador, 25X mais potente.
Estranhamente, o tempo decorrido daquele súbito fulgor não solicitado na ignição imediata e inevitável pós inflamada, parecia ter demorado horas seguidas.

Como bom fogueteiro que era, sabendo manipular a pólvora em vários e sinistros sub artefatos Hand Made, do tipo Implodir Formigueiros ou Ejetar latas de Molho de Tomates Elefante da CICA até a altura de um prédio de 1O andares, senti alguma coisa muito errada naquele rompante de terrorismo urbano.

Infelizmente nasci com um limiar à dor muito, muito acima dos demais, mais afeito aos Felinos do que aos Canídeos, aqueles, são silenciosos em seus traumas triturantes, estes, um beliscão na orelha e fazem um escândalo histérico de bichas-loucas, tamanhos exageros desproporcionais.

Assim sendo e ali estando, não percebi que o artefato bélico-festivo ejetava uma poderosa língua de fogo para baixo do rojão, uma pré-Challenger desqualificada, justamente, saindo pela culatra, no fundo aberto do cabo comprimido, atingindo mão, punho, braço e parte da minha cabeça mais embaixo.

Quando fui processar as dores intensas das queimaduras por flambagem direta com as flâmulas intensas e sibilantes saindo incontroláveis prá baixo, aconteceu a inevitável detonação do 13X1.

Não sabemos muito dos rojões, quando ele explode lá em cima, aproximadamente à 5Om do chão mas quando cada bomba embrulhada como um apertado bombom detona acima de sua própria cabeça, cada explosivo produz seu próprio e intenso flash de luz, ultra aquecido e cegante.

Isto, nos primeiros nanossegundos porque logo em seguida, vem o estrondo épico dos morteiros, seguida de uma súbita expansão e contração violenta do ar, com, ÉLÓSHYKO, um ruído tonitroante e devastador da própria explosão do rojão.
Considere esta sucessão de eventos, que durou 3 segundos, multiplicada por 13 explosões simultâneas e mais o definitivo 1 Tiro Canhão, praticamente todos juntos.

Curiosamente, "Rojão" vem de "rojar" ou "arrojar" ou seja, é de fato um foguete mas minha nave ElonMusk Istáile quis por que quis deflagrar uma detonação ainda na rampa de lançamento.

Depois da bombatômica, o silencio.

É o que testemunharam os sobreviventes de Nagazaki e Hiroshima.

Abri meus olhos e em volta de mim, abriu uma clareira enorme, limpa de humanos que antes eram praticamente iguanas marinhas, sendo difícil entender onde começava o braço de um e terminava a perna do outro numa floodadíssima Avenida Paulista, via dezenas de olhos esbugalhados me mirando no meio da "cratera" e ás vezes, um ou outro descarte no chão, era revirado pela brisa suave daquela tarde.

Os murmúrios foram aumentando como se um DJ girasse o knob do volume e fui cercado por umas 10 pessoas que me apalpavam, me seguravam, me conduziam sei lá prá onde, alguém me fez sorver uma água vertida de uma garrafa plástica, quase engasguei.

Eu sabia que escutava mas eu não ouvia nada à minha volta.

Fui parar sentado numa maca e dois Socorristas, já bem distante da balbúrdia, me inspecionavam, perguntando nome, endereço, idade e em que Dia, Mês e Ano estávamos.

Satisfeitas aquelas estranhas e súbitas curiosidades, percebi que ficaram aliviados, me educaram em algo de que não me lembro mais, com certeza, dados reais daqueles fogos artificiais e me liberaram, enfaixado.

Foi minha última comemoração por algo que, sinceramente, nem havia o que se comemorar e até hoje tenho sinceras e pragmática dúvidas se pude estabelecer o nexo causal devido ao acidente explosivo ou se simplesmente eu já estava no curso de desprezar estes eventos.

Até porque, curiosa e antropológica, eu lá fui e estive, pelas pessoas, até porque, nem me lembro do que era motivado aquele imenso forfait....
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Capriche. Não curto Anônimos, mas costumo perdoar os Covardes. (Às vezes, me sinto covarde, então...)