23 de fev. de 2010

LÂMPADAS "ECONÔMICAS": SUCESSO OU FRACASSO?

Nove anos depois do Apagão que afetou de norte à sul do país no ano de 2001, a adoção desastrada e precipitada das chamadas "lãmpadas fluorescentes compactas" (FCL) pela população brasileira, parece dar sinais de esgotamento, senão definitivo, com certeza, destacadamente notável, do ponto de vista de sua iniciativa e incentivo originais.

Qualquer residência norte-americana de padrão médio, possuí no mínimo 110 "bicos-de-luz", algo abolutamente impensável numa casa brasileira típica e, curiosamente, importamos também mais essa bobagem (não bastasse um tal de "Rélouim"...)  de um país escuro, gelado e nevado, para adaptarmos em terras ensolaradas, quentes e úmidas, ao invés de contarmos com a arquitetura e o correto dimensionamento das portas e janelas, horários de verão, incluídos.

No afogadilho, como parece convir à nossa crônica falta de planejamento, com tons vividamente patrióticos, não foram poucas as famílias as quais, do dia para a noite, se viram na oportunidade em abraçar uma, digamos,"causa ecológica", trocando suas onipresentes lãmpadas incandescentes, as quais estão instaladas de motos á barcos, de aviões à carros, de aparelhos de endoscopía, à aeroportos, de estádios de futebol á iluminação de ruas e avenidas, pelas tais fluorescentes, estas, dezenas de vezes mais venenosas.

Da cada vez mais extensa galería dos desastres nacionais, a falta de chuvas que esgotaram nossos reservatórios em pleno umbral do Século XXI, inaugurou em seguida uma corrida comercial às importações, com prateleiras de supermercados abarrotadas com o mais puro lixo chinês, a sucata eletro-eletrônica prontamente recusada em países sérios, que respeitam seus consumidores que lhes pagam e lhes sustentam via impostos, muito mais baixos que os pornográficos impostos pagos pelos cordiais -e sempre tão divertidos- brasileiros.

Em suas casas, milhares de famílias, puderam, enfim, jantar em ambientes domésticos, cujas iluminações mais pareciam reviver um filme de Nosferatus, com suas superfícies visíveis em tons esverdeados e alimentos à mesa que mais se pareciam uma autópsia abjeta, sem contar a própria penumbra percebida, tudo em nome de uma economia coletiva e necessária, enquanto os ricaços nacionais adquiriam à juros baixos, potentes geradores diesel de 2.000 cavalos, ligados automaticamente em caso de "black-outs", artefato que só se viam, pasmem,  em grandes hospitais, sabem como é, as águas das piscinas não podem esfriar assim, sem quaisquer imprevistos.

Tentando corrigir essa verdadeira hecatombe luminotécnica, os fabricantes criaram a "luz amarela", nada mais que o próprio tom de nossa estrela central da qual nós, os primatas (denominados "superiores") estamos habituados, olhos e memórias, lá se vão 1.000.000 de anos, porém, no observar atento às casas, oficinas, escritórios, clínicas, estúdios, ateliers, e lojas, apenas para citar os cenários londrinenses, a feiúra inconcebível de uma bela idéia original gerou, no máximo, o canto do cisne: O confôrto visual (de resto, necessário à alma e á existência humanas, tanto como são o oxigênio, o alimento, o sono, o trabalho e o lazer), sobrepujando largamente a aprentemente inútil "necessidade" em obtermos contas de luz com faturas mais baixas, "salvando" a Terra, quais super-heróis anônimos.


"Quantos de nós, estamos realmente 
preocupados com os destinos de um 
pequeno e frágil planeta, do qual 
dependemos integralmente dele, 
para sobrevivermos?
Quantos de nós, estamos realmente preocupados com os destinos de um pequeno e frágil planeta, do qual dependemos integralmente dele para sobrevivermos, brincando de ecologistas superficiais, sem avaliarmos os reais impactos de uma decisão aparentemente inocente, como optar por formas de iluminação doméstica, por conta da redução das águas que movem turbinas hidrelétricas, em uma região sujeita à 260 dias de pleno sol, por ano?

Torço pelo dia, em que alguma montadora de automóvel realmente inteligente e inovadora, lance carros com suas pinturas permanentemente fôscas, eliminando para todo o sempre a hoje bizarra necessidade de nos exibirmos às ruas em automóveis com aspecto sempre "molhado", envernizados e espelhados como lacas chinesas, isso sim, uma herança abjeta do século passado, com trilhões e trilhões de litros de água (potável!) de nossos reservatórios, containners de detergente, toneladas de polidores desperdiçados, em um verdadeiro Trabalho de Sísifo, cuja durabilidade tão efêmera quanto inútil, faz o termo "carro limpo", soar como uma contradição em termos, para não afirmarmos arrogância juvenil.

Limpo, prá quem, cidadão?

CHRISTIAN STEAGALL-CONDÉ
arquiteto, LONDRINA (PR)

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Capriche. Não curto Anônimos, mas costumo perdoar os Covardes. (Às vezes, me sinto covarde, então...)