Tudo bem, vai?
Na superfície, trata-se de mais uma história de guerra, bem daquelas do tipo "VOULÁS ...X... VAITEMBORAS".
Mas, quando se trata de um animê, as coisas, literalmente, mudam de figura.
A argumentação, nessa obra-prima, está bem próxima do impecável.
Num Japão estanhamente ambíguo, bizarramente ultra-master norte-americanizado (como o Japão o é, no hoje, mas nesse filme aqui, ele se encontra em uma escala potencializada por umas 50X...) meninotes e moçinhas -ainda impúberes- são pilotos de elegantes e mortíferos caças.
As aeronaves monopostos atendem pelo codinome Samka Mk. B, propelidos graças à um poderoso motor radial, queimando pura gasolina, conectado à enormes e clássicas hélices tripás duplas, contra-rotativas, evidentemente baseado no Shinden, onde cabe um Wikipedia providencial:
The Kyūshū J7W1 Shinden (震電, "Magnificent Lightning") fighter was a World War II Japanese propeller-driven aircraft prototype that was built in a canard
design. The wings were attached to the tail section and stabilizers
were on the front. The propeller was also in the rear, in a pusher configuration.
It was expected to be a highly maneuverable interceptor, but only two
were finished before the end of war. Plans were also drawn up for a jet-powered version (J7W2 Shinden-Kai),[2] but this never left the drawing board. The J designation was used by land based fighters of the Imperial Japanese Navy and the W is for Watanabe, the company awarded the contract (though the factory changed its name in 1943 to Kyūshū).
Achou esta pequena descrição anterior meio que, digamos "nerd"?
Então, afivele-se aí nos teus cintos de seguranca, bobinho...
A história nos conta das rotinas de um restrito grupo de jovens adolescentes, em úmero suficiente para a formação de uma feroz e implacável patrulha aérea de quatro caças a helice.
São áses recém-contratados e pinçados sistematicamente pela "Companhia", ainda contando apenas com seus treinamentos prévios de vôo dos quais, enfim, chegam às instalações da "Base" relativamente distante do vilarejo mais próximo, este, eventualmente, servindo como um lugar para as folgas ocasionais, já que os pilotos são todos "estrangeiros" em sua propria terra.
A Base, trata-se de um misto de escritórios e posto bélico avançado da Companhia, contando com o Aeródromo em sí, os Hangares com Brigadas de Incendio e Salvatagem, as Oficinas, estas, comandadas por uma curiosa mulher mecãnica (de cabelos brancos, a única "idosa" do filme e a que reúne toda a história pregressa, tanto do lugar, quanto do empreendimento).
Além dos Dormitórios de amplos quartos equipados com Beliches, Chuveiros, um Refeitório-Cantina de uso comum e um Salão de Jogos, com a indefectível mesa de snooker e o alvo de dardos à parede, como se lembrando que a pontaría, é o pré-requisito fundamental e motivo maior de todos estarem alí, reunidos.
Os recém-chegados, juntam-se sem muitas mesuras aos Veteranos, estes, igualmente jovens e estranhamente quietos, para suas primeiras missões, onde os diálogos paralelos vão se sucedendo e te envolvendo no desenrolar da trama num crescendo, graças às inserções de lembranças poderosas as quais, à princípio, parecem não fazer muito sentido, como costumam ser, aliás, as lembranças.
Os Novatos, chamados de "Kildrens", rapidamente tomam conhecimento das atitudes e da forte personalidade de sua Jovem Comandante, igualmente, uma piloto como todos eles, com a diferença que ela esconde um segredo inconcebível, além de contar com várias milhagens adicionais e muitas vitórias acumuladas em seu extenso -e letal- curriculum, sem contar a sua pistola 9mm, sempre semi-engatilhada no coldre.
A MISSÃO: Enfrentar o inimigo aéreo, cada vez mais próximo, no caso, à bordo de potentes aviões pilotados por seus contra-atacantes, àses igualmente corajosos e armados, isto, quando não tem pela frente o enfrentamento da esquadra completa da Companhia "concorrente", rugindo ferozmente acima de suas cabeças.
Dentre esses pilotos inimigos, um misterioso às é o líder mortal da esquadra em seu velocíssimo caça reluzente, com os Kildrens ouvindo a lenda recorrente que se trata de um Adulto, sendo raramente identificado com a insíginia de um Jaguar Negro na fuselagem, eles mesmos, funcionários exatamente como aqueles que estão à combater até a morte, um pouco no estilo "antes ele, do que eu", no dilema enfrentado pelos pilotos recém-adolescentes.
Essas duas companhias rivais, aparentemente, defendem do ar os territórios físicos e os negócios bilionários em terra, contratados por terceiros (uma metáfora da Guerra do Futuro?), com direito à logomarcas distintas, equipamentos com patentes exclusivas, designs, configurações próprias e, muito provavelmente, uma "Missão da Empresa" bastante particular, a qual faria corar muita multinacional moderna.
Afinal de contas, deter a supremacia tecnológica no ar, em termos bélicos, somado à bons combatentes e pessoal de terra absolutamente confiável, também conta numa desejável vitória ou conquista.
Algumas das ameaças aéreas, são pré-identificadas e detectadas à tempo, graças um poderoso sistema de radares terrestres, que coloca a esquadra atacada dos Kildrens em alerta máximo, prontamente decolando ao soar dos alarmes na Base.
Kildrens, Kildrens...
Mais ambiguidade, com pitadas de androginia?
Impossível...
Tratam-se exatamante da junção de Kids, com Childrens...
Algumas vezes, um Bombardeiro inimigo atravessa o dossel de antenas rastreadoras e consegue invadir as áreas geográficas próximas, cujas batalhas destrutivas e contra-ataques aéreos, épicos e definitivos, são acompanhadas pela população em terra .
Esta população, aparentemente, segue sua vida diaria em rotinas, sem nutrir muito interesse nos feitos aereos, quase que não fazendo muito sentido, se uma ou outra campanhia vencer, tudo assistido em tempo real, com imagens diretas dos céus da batalha, através dos noticiários das TV´s locais.
Da animação, ressalta-se a quase inacreditável resolução da tela e os enquadramentos da imagens, praticamente, com uma camera montada no cockpit do piloto, como aliás, várias dessas cameras reais à bordo, documentaram os mergulhos de ataque, metralha e bombardeamento dos caças durante os conflitos aéreos da Segunda Guerra Mundial, desde sempre, um tema e tanto.
Incluindo nas variadas sequencias mortíferas, o espatifar do inimigo em fuga desesperada adiante, retalhado em jatos infindaveis de balas tracejantes cujos rastros de luz, não deixavam dúvidas do imenso poderío de fogo à bordo das potentes metralhadoras gêmeas .50mm, instaladas nas asas e capazes de perfurarem facilmente um oponente, nao importando o seu tamanho, escala, armamento a bordo ou sua velocidade (ou tentativa...) de escape.
Morrer, para os Kildrens de The Sky Crawlers, é absolutamente natural.
Mais do que isso, é previsível.
Ossos do ofício, trata-se apenas de uma eventual consequencia de uma missão, em muito similar à ética dos Kamikazes e seus Mitsubishis A6-M Zero da 2a. Guerra Mundial, tendo o gigantesco Oceano Pacífico como teatro de operações, voando com gasolina o bastante em seus tanques enormes, para que jamais retornassem aos Porta-Aviões de onde os pilotos decolaram, detalhe que evitaría o surgimento de pilotos em dúvidas, já que a opção de escolha, era, exatamente uma unica:
Nenhuma.
Na Guerra Aérea Japonesa, a guerra real, o Imperador-Deus e a Pátria, eram os reverenciados.
Neste The Sky Crawlers, o Comandante e a Companhia, é que são os reais considerados.
Os personagens, até mesmo o simpático dono do Pub no Vilarejo, são surpreendentemente introspectivos.
Os Kildrens, fumam adoidado, praticamente acendendo o próximo cigarro na ponta da bituca recém fumada até o filtro, não sem antes, ser descartada no piso, discretamente pisoteada e apagada com um giro do coturno, extinguindo-a.
Alias, exatamente como e a vida.
Os pilotos, por vezes, elaboram perguntas desconcertantes, seguidas por questionamentos implacáveis.
Descobrem, por vontade ou por acaso ou são expostos à segredos íntimos devastadores ...
Se vêem calmamente apaixonados por outrem, em amores dos quais, senão impossíveis, com certeza absoluta, impraticáveis no contexto em que sobre-vivem.
Aparentemente, nada temem, nem à ninguém (exceto, talvez, à rígida hierarquia e sua missão fundamentalista) pois, sabendo-se de seu Destino previamente, o que há, de fato, para se temer?
Os Cíclopes, eram homens comuns, até terem se tornado criaturas reclusas, taciturnas e introspectivas, por que deram um de seus próprios olhos para obterem, em troca, a informação capital da existência, de resto, negada à qualquer vivente, desde sempre:
O dia e a hora exatas de suas mortes.
Assistindo ao eletrizante filme de 120 minutos (que se parecem 180!), tenho até um pouco de dó, desses moleques do hoje, que vão definir um The Sky Crawlers, no mínimo, como "sonolento demais, tío..."
Mas esse filme, defintivamente, não é destinado aos moleques.
De fato, não é nem mesmo um filme para todos os adultos.
Ao menos, não, na grande maioria dos quais conheço, incluindo a sua sinsitra trilha sonora.
Sem contar as sutilezas de suas sub-narrativas, desarmando o mais feroz dos críticos insensíveis.
E olhe que assisti a este filme, por puro acaso...
... trocando de canais na TV a cabo e dando de cara com um tal "CAIRN" impresso no capacete de um óbvio piloto de guerra clássico, máscaras de oxigenio incluidas, em plena grade vespertina do calendaario de atracoes do canal Home Box Office (HBO).
Por varios instantes, achei até que, o que eu estava assistindo, era um filme em pelicula de 70mm!
Meu queixo caiu no chao, quando percebi que era um magnífico, raro e desconcertante "desenho animado".
The Sky Crawlers, de Hiroshi Mori, é cinema grandioso -dos bons- descrito com "c" maiúsculo.
No desfecho absolutamente espetacular, a satisfação quase agonizante de entretenimento entregue em estado puro, garantido por uma altíssima carga emocional de memórias, humanidades e dúvidas.
E, espero, uma possível continuidade da franquia, já que o título é uma clássica série de quadrinhos em animê que andou sendo publicada por anos seguidos no Japao.
Um filme que, quando acaba na subida dos muitos e numerosos créditos na tela, ja te deixa num absoluto silencio.
O horror, o horror, para todos nós, os pobres, os semi-infantilizados e os barulhentos Latinos-Americanos.
Prá quem não entender nada nem coisa alguma deste filme, sem maiores preocupações adicionais, por favor:
Tem sempre alguma merda, novinha, vaporosa e fresquinha em cartaz em algum Near Movie Theater!
Com aquela carga massiva destes pseudo-atores , tais como um abobalhado Ben Affleck ...
... um repetitivo Adam Sendler ...
... e um fraquíssimo Ben Stiller, todos te esperando às bilheterias e nos assentos, um verdadeiro chute no meio das bolas, prá quem ainda pensa, ainda que em doses mínimas...
Leve também um rolo dse papel higiênico e aproveita prá atender o telefone celular ultimo tipo, bem no meio da narrativa do filme, dentro da sala escura.
Ou então, acorde para o seu tempo disponivel cada vez mais raro e in/disponivel de entretenimento pessoal e consuma -ou tente consumir- o que há de melhor, mas afeito só prá quem conseguiu cultivar o seu próprio senso crítico, em estado mínimo.
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Capriche. Não curto Anônimos, mas costumo perdoar os Covardes. (Às vezes, me sinto covarde, então...)