28 de fev. de 2008
À QUEIMA-ROUPA
Mais do que os atos apreciava sobremaneira as palavras chamando tudo que se pegasse com as mãos de ´´artefato´´ fosse numa fazenda alquebrada stand de tiro imitando filmes guaritas sufocantes barracos provisórios numa favela solidificando o fracasso definitivo mansões em estilo bolos-de-noiva bancos fingindo lugares bacanas ou quando estava mal guardado na terceira gaveta da mesa de um escritório quando não em cima do guarda roupas tudo prá ele era ´´artefato´´ brincava desenhando palavras similares arte e fato arte e ofício arte oficial artificial artifício fogos de Reveillons fogo apagou cessar fogo afogados não deveriam ser àqueles queimados pelo fogo perguntava-se sorrindo nunca mais foi exatamente o mesmo após incursão solitária ao Deutsches Museum na sempre tão austéra Mûnchen especialmente numa ala reservada aos tais ´´artefatos´´ de sua vergonhosa paixão por demais reprimida enormes de dificil condução e locomoção imaginava pesada calibragem um tipo de municiamento individualizado cartuchos metálicos recarregados por trás imensos tripés servindo de apoio para os disparos únicos miras em óticas rudimentares porém precisas muita madeira quantos anos até suas portabilidades óbvias e tão disseminadas hoje vindo tudo em plástico belo museu no meu país isto é sucata merda de governo atrasado inútil e caro esse que temos nunca respeitando nada nem ninguém.
Pensava no maleiro do guarda roupas de sua belíssima casa o esquecido artefato de fabrico germânico discretamente lubrificado nas ranhuras por onde se instalava uma luneta por ora ainda inexistente honrosamente protegido e embrulhado em grossa camurça ou seria um retalho de nobuk o coldre protetor original em couro marrom escuro polido como sapatos de festa desgastara à muito num filme com nazistas viu de relance uma idêntica quanto será que vale uma dessas no mercado paralelo hoje brincava que o pobre animal cuja pele agora protegia a valiosa herança da armoría mecânica do século passado e talvez funcional bem que podia ter sido vítima de seus próprios disparos oras que estultice a minha se reprovava rindo mais do que os fatos especialmente apreciava sobremaneira as segundas feiras na contra mão dos seus cento e oitenta e cinco milhões de cordiais brasileiros menos dez milhões deles analfabetos talvez nadando contra a maré do planeta inteiro agradava a idéia seminal infalível semanal sublimada na oportunidade eterna grátis genial do recomeçar empresa para poucos e destemidos valentes naquele dia espetacularmente cheio produtivo instigante mas sem revézes avançar vida é uma viagem de ida costumava dizer triunfante "vida é uma viagem de ida" seu pai tirando sarro acrescentou um "idade".
Trânsito desgraçado como sempre na cidade tão pequena com motoristas tão estúpidos correm tanto imperitos negligentes e imprudentes só prá voltarem o quanto antes prás suas vidas vazias e sem sentido algum sem a menor noção do que podem gerar de posse da máquina na durabilíssima tristeza iludidos por heróis imolados nas pistas famílias sem diálogo castigos baseados na supressão provisória de bens materiais como fazemos com os cães funerárias seriais à todo vapor ainda assim sorria checando placas de velocidade máxima e as obedecendo no apreciar do mutar lento e gelógico da paisagem urbana desincorporado da selvageria no achar de vaga apertada oportunidade de exibir habilidades sempre elogiadas nessas horas tão masculinas de fato manobrava com perícia invejável mesmo no escuro como se adivinhando suas próprias dimensões e as do entorno imediato não raro pára-choques espaçados entre carros por centímetro de vão algo remexeu na calçada à esquerda entre o pára-brisas traseiro com uma fina linha horizontal dourada do desembaçador rompida e o vidro do passageiro de trás vulto humano de atitudes simiescas sem aviso permissão ou tolerância ouviu algo nem olhou mas sua mão direita fez um não não obrigado balançando em direção ao primata quando ouviu réplica que o paralisou seu carro póde até ser riscado doutor vociferou repita o insolente desconversa o estudando discretamente se esse carro aqui na minha frente for riscado eu te acho no inferno seu filhodaputa o vulto resmungou algo como ele fizera à pouco andando sem se virar pensou chega isso passou do controle merda de governo atrasado inútil e caro esse que temos nunca respeitando nada nem ninguém.
Pensou no artefato alemão talvez oxidado de tão enfiado no maleiro não não muito velho destreinado poderia nem funcionar e fazer besteira ou ficar vulnerável loja grande adentro encontra os belos sapatos dos quais precisava à tempos desviou da rota lá dentro mesmo rumando à vitrine reservada nos fundos onde artefatos eram exibidos sob grosso vidro trancado à chave perguntava como podem preciosidades evoluídas do pós guerra como aquelas podendo ser comercializadas assim sem cerimônia alguma o vendedor confessa baixinho num sorriso olha por mim qualquer sujeito tinha que treinar por uns dois anos antes de sair como um idiota disparando à esmo mas com crediário de hoje em dia até mulheres saem daqui com uma e voces deixam isso acontecer rindo nervosamente e com medo de uma delas me ouvir sei lá fazer o que é o dinheiro que conta temos que vender o que um cliente quer e o que fazem com isso depois acaba alí no pacotes rindo ambos apontei a que eu queria tão linda já namorando em segrêdo desde à muito de uma revista temática exclusivamente abordando só daqueles artefatos alguns bem antigos mas a maioria modernos lançamentos da indústria de todo o mundo tecnológico, a evolução da ótica e de matérias primas alternativas, tão fundamentais, incluídas.
Perguntei da documentação por que só nessas horas fico temeroso de tão antiga meu rosto jovial e algo bravio na foto com data numerada no peito ele disse só lá no caixa pago com cheque sim meu deus as coisas evoluiram mesmo sentindo minha premeditação iminente e inegociável não quer aproveitar e levar munição extra nunca se sabe na hora sorrindo maliciosmente cúmplice tá legal o que é que voce tem aí no caixa pergunto mas é só sim senhor obrigada meu deus sai com uma indiscreta sacola plástica marcando meus dedos sapatos novos incluídos há dez anos se muito seria um discreto pacote fechado no papel com barbante andando como se os outros soubessem o que eu levava sonhos obsequiosos de cidadania me afogavam no carro mesmo à luz do dia manuseei sem menores constrangimentos minha nova aquisição cidadã meu arsenal doméstico crescente prá ter intimidades com ela mais tarde sim quase uma prolongação da sua mão e claro do cérebro chequei cada mecanismo cada detalhe o design hoje é mais ortogonal sem carregá-la ensaiei um único disparo à seco minando na parede vazia tal como casa modernista sem medo algum apenas prá ver como se comportava meu deus eletrônica embarcada até nisto um laser automático embutido dormi estranhamente sorridente não perco mais um disparo sequer.
Noite dessas prestigiando feira de agricultores com seus sadíos produtos naturais premiados vagens abóboras varas de cana milho pipoca caquis secos nozes pecan dulcíssimas quem sabe levar algumas gosto de ir armado nesse lugares vaga à vista dirigi com precisão divisei de novo o agora cada vez mais familiar vulto simiesco mas é outro exemplar obeso ameaçador insolente similar ouço déiláo doutor melhor pagar agora se não já viu parei de escutar o mundo à volta merda de governo inútil e caro esse que temos nunca respeitando nada nem ninguém minha cabeça entrou num túnel meu dedo coçou prevenido saquei meu artefato engatilhei sem aviso nem mirei muito bem confesso pensar que já cheguei a errar feio no começinho acertando só da cintura prá baixo pelo menos nunca decepei cabeças essas coisas voce só percebe a desgraçeira toda bem mais tarde na hora não dá é só turbilhão apertei o dedo com suavidade notei que minha mandíbula inferior pressionou a arcada de cima com discreta violência engraçado como também mastigamos o nada quando manuseamos uma inocente tesoura e papel talvez calibrando o ferramental ou seria uma força extra na ajuda do corte mordendo.
Nem pisquei meus olhos no flash potente de luz explodindo à minha frente iluminando a noite juro que ví um animal assustado me encarando no escuro o seco e discreto estalar do mecanismo de disparo invisível nessa altura foi quase como um clique suave natural da arma agora letal o mero aperto de um botão dos milhares de botões que apertamos todos os dias imagine somando os do teclado do computador senhas às centenas banco instrumentos musicais consoles de jogos eletrônicos meu deus tantos anos e ainda domino essa prática como se meu último disparo tivesse sido dado sei lá anteontem correria imediata de outros símios idênticos atraídos alí não tive a menor das dúvidas ato contínuo mirei instintivamente primeiro nos órgãos vitais como o instrutor me demonstrara pacientemente as vezes pegando o artefato junto com minha mão tremida depois ajustei a mira para o meio da cabeça de cada um deles e disparei um a um apontava disparava movia a mão alguns graus para o meio da cabeça do outro desgraçado mirava disparava até atingir todos os quatro faltantes coisa de cinco segundos o primeiro já era fiz exatamente como os filmes nos ensinam em menos de dois minutos o lugar ficou limpo olhei em volta por tudo atento sem testemunha ocular alguma ficou engraçadamente decepcionado.
Curti demais a feira comprei legumes premiados lindíssimos rí com amigos velhos após meu embate fatal com novos inimigos minha língua queimando querendo confessar resisto retorno ao carro calçadas agora absolutamente desertas um carro da polícia passa penso chamá-los deixa quieto já foi em casa manuseei com carinho redobrado o artefato quase idolatrando-o pelo seu simples existir no me defender tão bem descarreguei-o por segurança nem o escondi será que aquela verdadeira relíquia a minha máquina sem uso do maleiro vale alguma coisa espantado não disse "artefato" semana que vem terei mais um evento mais um confronto usarei minha mais nova arma letal em nome da minha cada vez mais vilipendiada cidadania um disparo um ponto e pronto depois de tudo já feito eu te conto nos diz malicioso sorridente manuseando fotos antigas agora resguardadas dentro de uma nova caixa de sapatos, enquanto as novas imagens são transferidas de uma máquina para a outra artefato dialogando com artefato para o seu computador como mágica caralho que cara de bunda esse flanelinha filho de uma puta tem merda de governo atrasado inútil e caro esse que temos nunca respeitando nada nem ninguém !
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Capriche. Não curto Anônimos, mas costumo perdoar os Covardes. (Às vezes, me sinto covarde, então...)