20 de dez. de 2008
EXÓTICOS
BUM! Ouço o estrondo seco e, depois, silêncio. Corri à janela
de meu estúdio,escanerizando a ainda outonal paisagem de
Dezembro de 2005, pois dos sons "ruins" e habituais, esse
configurava-se em uma espécie rara de "familiar novidade".
Os mais comuns, são estrondos secos seguidos de muito
barulho ( pois nossa CMTU insiste em tratar as artérias
locais com displiscencia digna de bairros do tipo deixa-prá
lá), as tantas capotagens após colidirem com 2 ou 3 carros.
Parados.
Nada.
Olho para o poste e noto o Transformador lá em cimão,
exalando fumaças, como se tivesse acabado de degustar
um bom charuto baiano, os halos de fumo branco se dis-
persando lentamente na frente do azul do céu ao fundo.
Escanerizo tudo e noto um Bem-Te-Ví inerte no chão da
calçada, o piador que alegrava várias das manhãs da Rua
Paranaguá, jaz deitado no cimento numa posição estranha,
meio de lado e... como se estivesse querendo sentar-se,
postura indigna demais, imprópria demais, até mesmo eu
diría "humanizada demais", para significar algo de bom.
Instintivamente, como se pressentisse estar sendo muito
observado, resolvo erguer o queixo e, de fato, lá do alto do
mesmo poste admiro a sua discreta companheira fitando o
amigo lá embaixo, e, balançando a cabeça, ora para a direita,
ora para a esquerda, talvez tentando entender, talvez até
mesmo perguntando-se algo estranho como "Ué, mas então
ele vai resolver ficar deitado, ali embaixo... ATÉ QUANDO?",
Irracionais, os animais, eles ensinaram-me, pelo observado,
demasiado cedinho, nessas escolas.... Demasiado cedinho.
Recolhi o animal, estranhamente quente, mole como um
pano em minha mão, aproximei-o de meu rosto para admirar
de perto o seu "rosto", algo de sublime num design elegante,
preciso, belo, as formas seguindo as suas funções, me senti
deslocadamente mal, depositando-o em um... Latão de Lixo.
Passados alguns dias, de passagem pelo umbral, ouço um
farfalhar suave no pequeno gramadinho do térreo, algo se
mexendo com dificuldade típica, onde a escuridão promovia
o renascer dos nossos obscuros memoriais fantasmáticos.
Investigando, agora me surpreendo, entre sorridente e
algo apreensivo, meu encontro com o filhote, um protótipo
em fase de pré-acabamento do pai já morto, debatendo-se
com sua asa quebrada. Com custo e apavorado de piorar a
sua já complicada situação, consigo pegá-lo com extrema e
mesurada delicadeza e, já tarde da noite, melhor instalá-lo
numa caixa de sapatos e amanhã veremos como proceder,
não sem antes ter notado uma fratura exposta, onde em nós
humanóides sería o antebraço, ossos quais palito-de-dentes,
avícola do tamanho de um celular. Um celular dos PEQUENOS.
Manhã seguinte, o micro Bem-Te-Ví ainda vivo, alerta, olhos
esbugalhados e um lutador, levei-o ao (onde mais?) Hospital
Veterinário da UEL, onde lá desculpam-se num automático:
"...não atendemos animais exóticos".
Fiquei mudo.
Desconfortado, entro em meu confortável carrão e, é claro,
caiu a ficha no rolar suave em meu combate diário ao trânsito
estúpido, encenado por idiotas nos condenando, um engano,
o atendente quis dizer-me, SIM, EU QUERO CRER, "silvestre".
O ano? Era algum lá da Década de ´60. O investimento, um
pouco além dos 2 milhões de dólares. O projeto? Contratar
designers para redesenhar os topos ( terminações da corôa )
de todos os postes com mais de 50 anos de idade que então
rasgavam ( via "progresso" ) as pradarias norte-americanas,
estas, com suas imodestas 450 Milhões de Primaveras, todas
aniversariadas sem a ínfima, remota presença dos Humanos.
O motivo: Evitar as contínuas eletrocussões daquela que é
sua portentosa ave-símbolo nacional, as Águias-de-Cabeça-
Branca, quase pré-extintas, pois seu porte era bastante
similar ao do gabarito da distância entre fios energizados,
os quais as matavam quando as aves abriam suas grandi-
osas asas, assim gerando o curto-circuito fatal e sua sen-
tença definitiva, sem ser a culpada.
Enquanto isso, um portentoso centro educacional e modelo
nacional, pelo que pude inferir, prepara-se e aos seus para
uma dicotomia do futuro das nossas mais recentes urbani-
dades, onde nossos animais... "de estimação" * resumir-se-
ão à Au-Aus e Miau-Miaus. Bem te vi, humano: Bem te vi !
,
,
*PS: Quando pequeno, imaginava-me ser possível, tão logo adulto me tornasse, comprar e importar um Dragão-de-Komodo adolescente e passear com ele pela vizinhança do bairro, claro que com ele completamente seguro e preso, atrelado à mim por uma coleira peitoral... ;)
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Capriche. Não curto Anônimos, mas costumo perdoar os Covardes. (Às vezes, me sinto covarde, então...)